2019 foi o ano do Flamengo de Jorge Jesus. De um Rubro-Negro soberano, que destroçou quem ousou desafiar esse domínio. Um timaço que levou para a Gávea o heptacampeonato brasileiro de forma indiscutível.
Jorge Jesus não foi o único técnico estrangeiro a brilhar naquela temporada. O argentino Jorge Sampaoli fez um belo trabalho com um vice-campeonato com o Santos, inclusive carimbando a faixa do Fla com um categórico 4 a 0 na última rodada.
Não podemos deixar de ressaltar, também, o sucesso dos técnicos brasileiros. Rogério Ceni fez um excelente trabalho com a nona colocação do Fortaleza, uma campanha histórica para o clube.
Ao longo do campeonato, o treinador chegou a ter uma breve passagem pelo Cruzeiro, mas não evitou o primeiro rebaixamento da história dos mineiros, rebaixados junto com os catarinenses Avaí e Chapecoense e com o CSA.
Para construir as bases sólidas para o título, o Flamengo passou por momentos complicados. Sob o comando de Abel Braga, o time não engrenou. Marcos Braz, no comando do futebol, foi para a Europa, então, e trouxe Jorge Jesus.
Com o técnico, chegaram jogadores fundamentais para a campanha. Gerson chegou do futebol italiano, Filipe Luís do Atlético de Madrid, Rafinha do Bayern de Munique e Pablo Marí do Deportivo. O time cresceu.
Um desses reforços, Rafinha foi o convidado de oGol para contar a história da conquista rubro-negra. O lateral lembra que o início de trabalho com Jesus foi de muita pressão, com uma eliminação na Copa do Brasil e uma derrota para o Emelec que quase custou a sequência do time na Libertadores.
"Foi tudo em uma semana, foi uma semana dramática. Estava com duas semanas de clube e já estive na decisão com o Athletico (na Copa do Brasil). Não estava 100%, estava de férias, treinei duas semanas e já fui para o jogo. Jogo de uma intensidade muito grande. Jogamos bem, mas tivemos a infelicidade de tomar um gol no segundo tempo, o gol de empate, e perdemos nos pênaltis. Foi uma decepção grande, porque tinha acabado de chegar e nosso time era bom. A gente cria expectativa. Naquele momento, quando acontece uma eliminação, a gente não sabe como vai reagir o time, a torcida. Ali eu comecei a entender o que era o Flamengo", começou a contar Rafinha.
"Na semana seguinte, a gente teve um jogo na Libertadores contra o Emelec e perdemos. A gente entrou em uma semana conturbadíssima e juntamos o grupo para criar força e arrancar. A gente teve um jogo contra o Botafogo, antes da volta contra o Emelec, e eu, por ser mais rodado, experiente, fiz uma reunião com a 'rapaziada' antes do jogo, falei que tinha certeza que a gente ia passar do Emelec, mas que para passar do Emelec, a gente tinha que ganhar do Botafogo antes. A gente pegou um Maracanã lotado, domingo de tarde, a torcida acreditando. Trouxe a torcida para a gente, chacoalhei o time no vestiário, falei que se a gente ganhasse domingo, a gente ganharia quarta. E eles compraram a ideia, ganhamos no domingo e quarta fizemos 2 a 0. Foi para os pênaltis e converti minha cobrança e avançamos. Foi uma semana maluca que nos deu vida", completou.
Naquela sequência, o Flamengo ainda perdeu para o Bahia na sequência, mas depois, o time engrenou. Só foi perder na última rodada. A regularidade da campanha, para Rafinha, teve muito que ver com Jorge Jesus.
"Eu costumo dizer que um treinador bom, com jogadores bons, fica um casamento perfeito. Mas às vezes tem um treinador bom, mas o time não é tão bom. Mas no Flamengo foi o casamento perfeito, é um timaço, em todas as posições, e isso facilitou muito para o Jorge Jesus. Ele é um treinador muito intenso, cobra muito, não deixa a peteca cair, a intensidade baixar. Por isso ele triunfa, tem êxito. Nunca deixa os jogadores se acomodarem. A gente sabe que no futebol, o difícil é ganhar de novo, mostrar que o time é bom mesmo. E isso era o que o Jesus fazia muito bem. A gente ganhava um jogo, ele já pensava no outro, para a gente entrar com a mesma força para ganhar. Foi assim o ano inteiro, com muita intensidade", ressaltou o lateral.
Rafinha teve carreira vitoriosa na Europa, principalmente com a camisa do Bayern de Munique. Ainda assim, o lateral destacou que Jesus agregou muita coisa em sua carreira.
"Cheguei com 34 anos no Flamengo e virei um fã do Jorge Jesus, porque já aprendi muito na vida, e com ele aprendi muito mais. Coisas de posicionamento, situações do jogo que aprendi. A gente tem um time muito bom, mas a gente tem que dar crédito para ele, teve a mão ele nessa mudança de estilo do Flamengo e nas nossas conquistas", comentou.
Para o Flamengo engrenar de vez naquele Brasileiro, Rafinha destaca a vitória sobre o Santos, no Maracanã. Com um belo gol de Gabigol, o Rubro-Negro venceu e fechou o primeiro turno na liderança. Para nunca mais sair.
"Ganhamos de 1 a 0, golaço do Gabigol, de cobertura. A gente vinha fazendo um campeonato maravilhoso. Ali, a gente se consolidou na liderança. Foi o momento mais importante, por ter feito aquele jogo contra uma equipe tão qualificada, como era o Santos. Naquele momento, a gente viu que tinha total condição de ser campeão", recordou.
O lateral destacou, ainda, o papel da torcida, que a partir de então passou a empurrar o time, sempre com um Maracanã lotado, rumo ao heptacampeonato.
"A torcida abraçou comparecendo, todo jogo 70 mil, 80 mil no Maracanã... E quando a torcida do Flamengo joga junto, quando ela apoia os 90 minutos, fica difícil vencer o Flamengo. E foi isso que aconteceu naquela reta final de caminhada para o título", disse Rafinha.
O Fla engrenou, com uma campanha histórica. Foram apenas quatro derrotas e seis empates, com 28 vitórias e 90 pontos na maior campanha da história dos pontos corridos com 20 clubes.
"Foi uma coisa que há muito tempo não acontecia no Brasileiro. Jogar com a mesma intensidade que conseguimos impor no Brasileiro... Foi impressionante. Conseguimos quebrar vários recordes, colocamos de novo o Flamengo no ponto mais alto. A gente fica feliz, porque a gente sabe que é tão difícil jogar o Brasileiro, e eu tinha jogado um só. E a gente disputar, e manter uma regularidade... Eu perdi um jogo só, para o Bahia. Contra o Santos, eu não estava. Então a gente fica feliz por fazer história no Brasileiro e pelo Flamengo. O Brasileiro é difícil, você joga quarta e sábado. Pega um Grêmio na quarta em Porto Alegre, sai de lá joga com o Palmeiras no sábado, depois pega o Santos lá. São jogos difíceis, um atrás do outro. Se você toma duas, três pancadas, já fica para trás. Esse foi o nosso segredo: manter a regularidade. E nisso, o Jesus teve um papel importantíssimo, cobrando a gente no mais alto nível para que a gente pudesse estar sempre estar jogando bem, treinando bem. O segredo foi esse: a cobrança dele pela intensidade. Foi fundamental para a gente", analisou.
Média de gols: 2,31 gols/partida
Melhor ataque: Flamengo - 86 gols
Melhor defesa: São Paulo - 30 gols sofridos
Artilheiro: Gabigol - 25 gols
Jogador com mais partidas: Douglas (Bahia), Tiago Volpi (São Paulo), Juan Quintero (Fortaleza), Tadeu (Goiás) e Diogo Silva (Ceará) - 37 jogos