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O Maracanazo: longe de ser um fracasso, mas a grande tristeza do Maior do Mundo

Texto por Carlos Ramos
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Para muitos, o Maracanazo foi uma grande decepção. Os jornais da época trataram a derrota brasileira para o Uruguai, no Maracanã, como uma vergonha, uma decepção imensa. E os jogadores foram tratados, durante muitos anos, como vilões. Mas demorou décadas para vermos que a derrota para os uruguaios esteve longe de ser uma tragédia, ou uma vergonha. Vergonha foi o que se viu no Mineirão, em 2014, com os 7 a 1. O que houve no Maracanã, chamado de Maior do Mundo, foi uma grande tristeza. E só.

Quando nosso time perde, nossa primeira reação é a raiva. E a raiva com a derrota de 1950 durou anos e mais anos. Tanto que Barbosa, que levou o gol decisivo de Ghiggia, foi maltratado por décadas, quase até o fim da vida. Mas antes da raiva, existia um clima de "já ganhou" no Rio de Janeiro. 

Otimismo pela campanha

Muito da expectativa criada para o jogo decisivo veio da grande campanha brasileira na Copa. O empate contra o "Ferrolho Suíço" foi a única pedra no sapato de um time que, comandado pelo craque Zizinho, goleou o México, a Espanha, a Suécia, bateu a forte Iugoslávia e havia vencido até o Uruguai. 

A campanha era quase perfeita. Faltava apenas o jogo final. E não era nem uma final: Brasil e Uruguai faziam parte de um quadrangular final que tinha ainda Espanha e Suécia. A rodada final reservou exatamente o encontro entre brasileiros e uruguaios. 

O Brasil liderava o tal quadrangular final, com quatro pontos, contra três dos uruguaios. Quer dizer, um empate bastava para, diante de cerca de 200 mil pessoas, o Brasil ser campeão do mundo pela primeira vez. Mas a história foi diferente. 

A desilusão 

O clima de "já ganhou" pela campanha tomou o Rio de Janeiro na manhã de 16 de julho de 1950. Era domingo, dia de ir ao Maracanã ver o Brasil ser campeão do mundo. E foram 200 mil pessoas, em um Maracanã que nunca se viu igual. 

Era clima de festa, das bandas tocando carnaval na cidade até a concentração brasileira. Políticos discursavam entre os jogadores, entre os "futuros campeões do mundo". E o Uruguai viu tudo isso, ganhou força e fez valer a mística da Celeste Olímpica. 

A primeira grande característica dos uruguaios em campo, segundo relatos da época, foi a resiliência defensiva. O Brasil foi para cima, com Zizinho, com Jair, com Ademir, com Danilo, com Chico, e Friaça, que até marcou um gol. Sim, a seleção brasileira saiu na frente. 

Só que o craque Schiaffino deu um aviso: não tinha nada ganho ainda. E o Maracanã se calou, mas por um minuto. Logo o clima de festa voltaria. Mas, aos 34 minutos, Alcides Ghiggia arrancou pela ponta e chutou forte, rasteiro. Barbosa não conseguiu pegar. Para muitos, o goleiro falhou, e de forma imperdoável. Barbosa, de fato, demorou a ser perdoado (se é que, verdadeiramente, o foi). 

O Maracanã se calou. Zizinho não tinha a menor ideia do que fazer. E nem Danilo. Friaça já não achava mais o gol, e nem mais tempo havia. Dez minutos passaram-se como se fossem dez segundos. Acabou o jogo, e o Maracanã ficou sem reação. 

Na verdade, a primeira reação foi a raiva, de fato. Era inaceitável o Brasil perder uma Copa no gigante estádio que foi construído exatamente esperando o primeiro título mundial do país. Mas assim quis o destino. O Rio de Janeiro caiu em lágrimas. Muitos viram lágrimas até no Cristo Redentor. 

Os jogadores brasileiros deixaram o campo incrédulos. Vagavam sem rumo. "Quisera que a terra se abrisse e me tragasse de uma vez", disse Danilo para jornalistas do Globo da época. Por muitos anos, a terra tragou aqueles tais "vilões". E quando eles já não estavam mais entre nós, nós vimos o que realmente é uma vergonha em casa. 1950 foi uma grande tristeza, e só. 

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jogos históricos
U Domingo, 16 Julho 1950 - 19:00
Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
George Reader
2-1
Juan Schiaffino 66'
Alcides Ghiggia 79'
Friaça 47'
Estádio
Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Lotação78838
Medidas105x68
Ano de Inauguração1950