27 brasileiros, contando os que se naturalizaram hong-kongueses, jogam na Premier League de Hong Kong. Só dois times não contam com brasileiros: o Guangzhou R&F, que joga com uma equipe que conta com maioria de jovens chineses e alguns locais, e o Hong Kong FC, dirigido pelo inglês Richard Ewart.
Dentre os brasileiros da liga está Sandro, de 29 anos, que já tem passaporte hong-kongolês e joga pela seleção local. Nascido em Rio Novo, Minas Gerais, o atacante deixou o Brasil em 2008, após ter começado a carreira no CFZ, para se aventurar em Hong Kong.
"Toda criança no Brasil quer jogar em um time grande, ser reconhecido. A torcida ai é bem calorosa... Mas aí quando eu vim para cá, vi que tinha outros lugares bons também", conta, em conversa por telefone com a reportagem de oGol.
Sandro lembra que, após retornar de empréstimo no Potiguar, de Mossoró, chegou ao Rio com algumas propostas. Tinha a chance de ir para o Ceará, mas optou pelo Citizen, time de Hong Kong, oportunidade que surgiu com a ajuda de Bruno, filho de Zico.
"Já estava com isso na cabeça, de jogar fora do país, conhecer outros lugares. Tinha esse sonho. Queria ter essa experiência. Quando surgiu, eu fiquei feliz. Claro que fiquei assustado, porque é China, longe, mas eu encarei da melhor forma possível", conta.
As diferenças são muitas. Culturais, de clima, língua, economia, geografia, culinária... O brasileiro sofreu um pouco para se adaptar no novo continente.
"No início, foi muito difícil, a linguagem, as comidas, não conhecia lugares para comer. Mas os brasileiros que estavam no time me ajudaram na comunicação, me levaram para os lugares para comer. Na primeira vez, me colocaram em uma quitinete. No Brasil, você sabe que as casas são grandes. Aqui é pequeno, já me deu a vontade de voltar ao Brasil. Mas falei: ´Não, meu sonho é jogar futebol. Eu tendo essa oportunidade, vou ter que encarar´".
Sandro insistiu. Aprendeu, "na marra", o inglês, uma das línguas oficiais de Hong Kong, que pertence a China, mas tem certa independência. Já são quase dez anos de experiências na Ásia, e o atacante já arrisca até falar Cantonês, uma das línguas locais. Mas, no início, o país cansou de pregar peças em Sandro.
"A mais bizarra foi quando ia ter um jogo, e eu fui no restaurante sozinho para comer. Pedi um frango lá, com arroz e salada que eu olhei na foto. Quando chegou o prato, era um frango meio amarelado, parecia que era cru. Falei: ´Deus me livre, como vou comer esse negócio para jogar?´Nem encostei na comida. Saí do restaurante e dei meu jeito de comer outra coisa", lembrou, rindo da situação.
Sandro agradou em Hong Kong. Jogou em seis times diferentes e vem defendendo também a seleção local. O jogador lembra de quando surgiu a oportunidade de defender o país que hoje é sua casa.
"Depois do meu quinto ano, já comecei a sonhar em jogar na seleção, porque sete anos aqui em Hong Kong já vira local. O treinador da seleção já vinha falando que gostaria de me ter na seleção, ai fui colocando esse foco na cabeça e fiquei muito feliz com a oportunidade que me deram", comenta.
Sandro está adaptado a uma liga diferente. Com três, quatro mil torcedores em jogos decisivos, que fazem a festa e mostram paixão pelo esporte. Os torcedores vêm aprendendo também a prestigiar a seleção local.
"Eles gostam bastante de futebol, porque quando vem equipes de fora, da Inglaterra, eles vão no estádio, o estádio fica cheio. Só acho que para a liga de Hong Kong, precisaria mais de investimento, como na China vem tendo. Mas eles gostam do futebol, quando tem jogo da seleção, depois que a gente empatou com a China, eles estão sempre indo para o estádio, está lotando. Estão gostando, a seleção está evoluindo", analisa.
O brasileiro gosta do país, da cultura, do salário, da estrutura e, hoje em dia, já se adaptou até com a culinária. É um cidadão hong-kongolês, mas não deixa de sonhar com outros destinos para sua carreira.
Como outros jogadores que atuam em Hong Kong, sonha com a China, mas viu, como seus companheiros e compatriotas, a vida dificultada pelo novo regulamento da liga chinesa, que só permite três estrangeiros por equipe. E um cidadão de Hong Kong é visto como estrangeiro, já que o país tem liga e seleção próprias.
"Quem não foi, como eu não fui, outros jogadores que não foram, dificultou. Nós queríamos ir, mas eles mudaram, e a gente até agora não entendeu o motivo. No meu passaporte está nacionalidade chinesa, mas não podemos jogar lá como local. Mas eles têm as próprias leis deles lá. Então fecharam para gente, agora para a gente ir, tem que ir como estrangeiro. Mas também não tem só lá para jogar. Se tem um lugar que eu queria ir é Japão, tem Coreia, Tailândia, Malásia, que o esporte está crescendo... A gente tem que abrir a cabeça para jogar em outros lugares", comenta.
Sabendo que a China é difícil, Sandro sonha, além de seguir fazendo sucesso com a seleção de Hong Kong, em jogar em ligas como a inglesa e a espanhola, campeonatos que hoje só são realidade para o atacante através da televisão. Mas os sonhos existem para serem realizados.