Celta de Coudet ambicioso no mercado por volta à Champions após 20 anos

Um pouco de nostalgia, investimento e trabalho. O Celta de Vigo aposta nesta fórmula para desafiar o improvável e voltar a dar um salto histórico: exatos 20 anos depois se classificar para a Liga dos Campeões.

Há duas décadas, na temporada 2002/03, o Celta conseguiu sua melhor colocação no Campeonato Espanhol, com um 4º lugar. A mesma posição havia sido alcançada uma vez na história, em 1947/48, época em que sequer existia a Liga dos Campeões.

A posição recorde de 20 anos atrás levou o clube para a primeira e única Champions. Mas o que, além do marco temporal, chama a atenção sobre o atual Celta?

De Coudet à Coudet

O Celta inicia a temporada 2022/23 sob o comando de Eduardo Coudet. Sim, aquele mesmo, técnico argentino que deixou o Internacional no final de 2020 para assumir o comando do clube espanhol. Curiosamente, Coudet foi integrante, como jogador, daquele elenco do Celta que se classificou para a Champions.

O início de trabalho do treinador no Celta foi protocolar. Acostumado às posições de meio de tabela em La Liga, o clube apenas cumpriu seu papel habitual em 2021/22, ao terminar o campeonato em 11º lugar. Agora, porém, uma rara dose de ambição e ousadia de mercado (para os padrões dos galegos) mostra que o desejo é retomar o "protagonismo" do início do século.

À imagem e semelhança de 2002/03, não há grandes estrelas em Vigo para esta temporada, mas atletas experientes e diversos deles com passagens por suas respectivas seleções. O Celta de 20 anos contava com nomes conhecidos como os brasileiros Sylvinho, Edú, Vágner e Doriva - este último saiu no início da temporada -, além de Catanha, figura lendária no clube e que chegou a se naturalizar para jogar pela Espanha. No ataque ainda haviam opções como o egípicio Mido e o sul-africano Beni McCarthy.

Numa Liga Espanhola com realidade diferente da que se vê hoje, o Celta terminou na frente de clubes como Barcelona, Valencia, Sevilla e Atlético de Madrid. O G4 acabou por ser formado junto de Real Madrid, campeão com os galácticos, Real Sociedad e Deportivo La Coruña, maior rival e que hoje se encontra na terceira divisão nacional.

Manutenção e investimento

A janela de transferências do Celta é das mais movimentadas da elite espanhola. Até o momento, oito jogadores foram contratados, sete deles com passagem por suas seleções. A exceção é o jovem Williot Swedberg, meia sueco de 18 anos que deve ser utilizado como reserva na maior parte do tempo.

Os reforços para Coudet chegam da defesa ao ataque, e poucos deles repondo saídas importantes. Apesar de sofrer com várias baixas, somente dois jogadores que foram titulares na temporada passada não seguem: Nestor Araujo, zagueiro mexicano que se transferiu para o América; e Brais Méndez, este sim a grande perda do time. O meia, que contribuiu diretamente para 11 gols na última temporada e joga pela seleção espanhola, foi para a Real Sociedad.

Em termos de reposição direta, a saída de Nestor Araujo tende a ser suprida por Unai Núñez, que chega por empréstimo pelo Athletic Bilbao. O defensor não vive o melhor momento da carreira, foi reserva na última temporada, mas chega com a bagagem de já ter vestido a camisa da Fúria. Para a vaga de Méndez, o nome é Óscar Rodríguez, talentoso meia que começou a carreira no Real Madrid e estava vinculado ao Sevilla.

Os nomes que chamam mais a atenção, porém, são os que chegam para o ataque. Carles Perez, campeão da Conference League pela Roma, e Gonçalo Paciência, vencedor da Liga Europa pelo Frankfurt, são as apostas para formar o ataque junto do interminável Iago Aspas.

Ainda entre jogadores com maior renome, o Celta contratou Óscar Mingueza, ex-Barcelona, e Agustín Marchesín, goleiro ex-Porto.

Quarta força?

Num primeiro olhar, pode até parecer que o novo Celta não se candidata a tanto com esses reforços. Porém, na Liga Espanhola que se inicia neste final de semana, a realidade para as maiores potências é de pouco investimento, à estranha exceção do Barcelona.

Mais que consolidado como terceira força, o Atlético de Madrid conta mais com reforços que retornam de empréstimo do que novas contratações - a única de impacto foi Witsel. O Sevilla, por sua vez, até contratou Alex Telles e Isco, mas perdeu a dupla de zaga (Koundé e Diego Carlos) que foi o grande trunfo nos últimos. Villarreal e Real Sociedad, que se classificaram em 2021/22 para as competições europeias, pouco se movimentaram até o momento. O Valencia vive crise financeira e não teve uma contratação de impacto sequer.

Quem até aqui também mostra ambição de mercado é o Real Betis. Sem volume como Celta ou grande investimento, os andaluzes apostam no jovem Luiz Henrique, ex-Fluminense, e Luiz Felipe, que chegou sem custos da Lazio.

A conjunção de fatores e um ar nostálgico levam o Celta de Vigo, pelo menos, se permitir sonhar. A teoria é boa, mas a prática será colocada em campo a partir de sábado, na estreia oficial da temporada diante do Espanyol, ao meio dia.