Cria da dupla Gre-Nal quase abandonou carreira, mas encontrou 'refúgio' no Tajiquistão

A pandemia da Covid-19 destruiu muitos sonhos. O de Murilo quase foi um deles. O meia brasileiro, com passagens nas categorias de base da dupla Gre-Nal, do Cruzeiro e da seleção brasileira, pensou em abandonar a carreira no futebol no período. Havia sofrido uma lesão. Voltar a jogar seria um desafio ainda maior com o planeta praticamente parado. Mas Murilo perseverou e, hoje, encontrou refúgio em um destino pouco usual no mundo do futebol: o Tajiquistão. 

Murilo começou nas categorias de base do Grêmio ainda com 11 anos. Ficou por lá seis anos, somou convocações pelas seleções de base do Brasil, do sub-15 ao sub-20, sendo campeão sul-americano no sub-15. Trocou o Tricolor pelo Cruzeiro, chegou a ir ao Sporting, de Portugal, onde foi treinado por João de Deus, auxiliar de Jorge Jesus no Al Hilal. Mas não ficou por divergências entre os clubes.

De volta ao Brasil, passou pelo sub-20 e pelo time de Aspirantes do Internacional até receber a primeira chance no profissional: no ABC, foi campeão potiguar. Mas foi uma virada que mudou os rumos da promessa. 

"Quando cheguei no ABC, eu cheguei muito bem, mas tive poucas oportunidades, treinava muito bem, mas não era aproveitado. Foi quando dei uma desanimada, ia para os jogos, e não entrava, às vezes não era relacionado. Talvez uma questão pessoal do treinador, ou achava que eu não era a melhor opção naquele momento. Acabei lesionando o adutor em seguida, e depois entrei em acordo com o clube para sair", contou, em conversa com a reportagem de oGol. 

Murilo em seguida assinou com o Lagarto e, na sequência, com o River, do Piauí. De experiências nas seleções de base, passou a ser um jogador sem calendário o ano inteiro. 

"A questão de não ter pegado um time com calendário cheio, foi porque não tinha jogado praticamente, fiz poucos jogos pelo ABC, acredito que os clubes olham muito os números hoje em dia. Acabei indo para o Lagarto, fiz um Estadual muito bom, sendo eleito melhor volante, tive uma sequência boa de jogos, depois fui para o River do Piauí, e acabou que veio a pandemia". 

Foi quando Murilo pensou em largar o futebol. E quase o fez. Problemas físicos, um imbróglio financeiro, uma carreira que não caminhava como era esperado, uma pandemia que parou o mundo...

"Na pandemia, foi bem complicado, pensei em largar o futebol, estava quase largando na verdade. O clube que estava antes não tinha me pago, novela grande... Mas depois voltei a ter gosto pelo futebol novamente quando fui ao Igrejinha, um clube pequeno, mas de pessoas com o coração enorme", contou o meia. 

Um desafio diferente na carreira

Murilo jogou a Divisão de Acesso do Gaúcho no Igrejinha. Em seguida, conseguiu uma retomada importante na carreira. Foi para o futebol árabe, onde conseguiu abrir mais portas após defender o Hetten FC. Jogou ainda na Ucrânia (FC Lviv) e no Bahrein (Budaiya) até que, de volta ao futebol da Arábia Saudita (Al Anwar Club), recebeu um telefonema curioso: era a chance de atuar no Tajiquistão. 

A pergunta natural, que logo fiz para Murilo, foi: o que te levou a jogar no Tajiquistão? Óbvio que uma boa proposta financeira estaria entre os motivos. Mas o brasileiro garante que não foi só isso. 

"O que me fez vir para cá foi o clube em si, maior clube do país, calendário com Champions League Asiática, procurei saber do clube como era, só ouvi coisas boas, e também foi uma proposta muito interessante em questões financeiras", garantiu Murilo, que não se arrependeu.

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O Istiklol tem uma das maiores hegemonias nacionais do futebol, com 11 títulos seguidos da liga. Em 2024, já está na ponta do campeonato, e parece ter poucos adversários à altura. 

"São jogadores de alto nível, 11 jogadores do meu time atuam na seleção do país, então é um clube gigante no país. A cidade é muito bonita, um país bem estilo europeu, a capital pelo menos é bem característica. Como estive na Ucrânia, são bem parecidos, até o idioma", contou Murilo. 

O brasileiro disse que o nível técnico da liga local também o surpreendeu. "Às vezes, pelo fato de não ser um país tão conhecido pelo futebol, tu vai se surpreender com a qualidade das equipes, dos jogadores", garantiu. 

O país, em si, não é tão diferente como sugere o nome. Murilo vive um dia a dia normal no futebol, não diferente de quando atuou em Ucrânia ou Arábia Saudita. Os estádios, embora não sempre lotados, também recebem bom público. "Acredito que nos jogos da Champions, o estádio vai lotar. Ano passado, jogaram contra o Al Nassr e não tinha espaço no estádio", disse o brasileiro. 

Murilo mora a cinco minutos de carro do estádio do clube, no centro de Dushanbe, capital tadjique. "Tem tudo que eu preciso, restaurantes bons, inclusive brasileiro". 

Adaptado ao Tajiquistão, com a quase certeza de soberania nacional, Murilo sonha em jogar a Liga dos Campeões da Ásia na próxima temporada. Hoje, tem tudo o que precisa para viver. A simplicidade pode ser, também, o caminho no mundo do futebol. Por lá, pretende criar raízes. 

"Quero ser campeão da liga, jogar todos os jogos da AFC, renovar contrato. No Stiklol, ficaria um bom tempo, sim, só se houvesse proposta irrecusável".