Nesta semana, o Montevideo City Torque, clube que pertence à City Football Group, empresa que controla também o Manchester City e outras sete equipes espalhadas pelo mundo, iniciou as obras em seu novo complexo esportivo, o Montevideo City Football Academy. Esta é mais uma etapa do projeto do time uruguaio em se consolidar como um celeiro de novos talentos.
O centro de treinamentos contará com cinco campos, sendo quatro de grama natural e um de sintética, refeitório, escritórios, sala de musculação e vestiários e tem previsão para inauguração em janeiro. Além de uma infraestrutura moderna, entre as melhores da América do Sul, o diretor de negócios do clube, Javier Nóblega, espera que o CT possa ser um espaço de intercâmbio esportivo, por estar localizado a cinco minutos do Aeroporto Internacional de Carrasco.
‘’É uma grande possibilidade de atrair clubes da região, brasileiros, argentinos e chilenos, para fazer pré-temporada aqui. Nós temos recebido algumas cartas de intenção. É muito comum que times argentinos, como o River Plate, façam os treinamentos no Uruguai e nossa ideia é proporcionar um lugar com as qualidades e exigências para esse período’’, explicou Nóblega.
Atualmente, o City Football Group só não está presente na África. A empresa administra além do clube uruguaio e o inglês, já citados, o Melbourne City (Austrália), New York City FC (EUA), Mumbai City (Índia), Yokohama Marinos (Japão), Girona (Espanha), Lommel (Bélgica), Sichuan Jiuniu (China).
Com o novo complexo esportivo concluído, a direção da equipe uruguaia pretende seguir apostando na formação de jogadores e aproveitá-los, ainda jovens, na equipe principal, para que possam dar o salto na carreira rumo a outros continentes.
''O objetivo é formar os jogadores, não só do Uruguai, mas da América do Sul, colocá-los em boa forma e fazer do Montevideo City Torque um clube de primeira divisão e que constantemente se classifique às Copas e depois vender-los. O que podemos oferecer é uma abertura a múltiplos diferentes mercados, possibilidade de serem vistos por diretores esportivos dessas ligas, em especial dos nossos parceiros, com os quais estamos em constante comunicação. Isso faz com que nossos jogadores sejam muito mais vistos que os de outros clubes uruguaios. Nós oferecemos as melhores condições para desenvolvimento e que eles não pensem em outras coisas a não ser futebol. E somos um clube pequeno mas com segurança econômica'', explicou o diretor.
Leia outros pontos da entrevista com Javier Nóblega
oGol: Sobre essa possibilidade dos jogadores do Montevideo City Torque serem vistos, o quão constante ocorre essa comunicação entre os clubes do City Football Group?
Javier Nóblega: No futebol, a comunicação é toda semana, constante. Compartilhamos inquietudes, dúvidas sobre jogadores, com consultas dos diretores esportivos. É um grupo que está permanentemente buscando novos horizontes. E nos motiva muito ver como o City Football Group vem constantemente a nós discutir o projeto esportivo e da academia. Nós seguimos replicando os métodos do grupo e buscando nossos horizontes.
A nível de negócio, é diário com a comunicação e marketing do Manchester City. Primeiro, compartilhamos com eles. Me impressiona a estrutura flexível do grupo. É uma coisa que aprendi aqui. Somos um clube pequeno que não tem um departamento de comunicação e marketing, mas podemos contar com o apoio nessas e até em outras áreas, do Manchester City, o que nos agrada muito.
O que tem de cultura uruguaia e europeia na estrutura do Montevideo City Torque?
Aqui somos todos uruguaios, não há estrangeiros trabalhando no clube. Formamos uma equipe interna jovem, sem experiencia prévia em futebol. Queremos gerar uma boa imagem e a essência do clube é essa. Temos por trás uma corporação muito grande que nos dá respaldo, aquele toque internacional e também local, para que possamos alcançar o nosso melhor. O clube tem que unir de forma equilibrada as melhores práticas do futebol uruguaio, que tem mostrado ao longo de muitos anos, com jogadores que nascem com certa qualidade técnica, e as melhores práticas da Europa, com sua supremacia, que podem desenvolver a organização na área de futebol, marketing e negócios. Todas muito bem divididas, assim como suas responsabilidades. Temos uma estrutura enxuta, mas muito eficaz e trabalhamos todos na mesma linha e assim podemos alcançar nossos objetivos.
O Montevideo City Torque é uma sociedade anônima ao contrário dos rivais uruguaios da elite, que são sociedades sem fins lucrativos. Pode explicar como funciona na prática?
Os clubes precisam ser organizações viáveis economicamente, profissionais e eficientes naquilo que têm como objetivos e que esses sejam claros. Uma organização na qual a cada três anos há uma troca geral de dirigentes, não me parece possível levar adiante um projeto. Nós vimos que a nossa organização, com o know hall do Manchester City e suporte econômico, poderíamos trabalhar nessa linha. E tivemos que traçar uma linha de comunicação para que os outros clubes nos vejam como um clube modelo. Creio que é para onde o mundo está indo. Por funcionar como uma empresa, há as exigências de uma, como conseguir resultados a médio e longo prazo. Porém, temos a possibilidade de termos os melhores profissionais do mundo em cada área.
O clube estreou na primeira divisão em 2018, mas acabou rebaixado. Ano passado, o Montevideo City Torque foi campeão da segundona e volta agora a estar entre os melhores do país. Quais foram os aprendizados da primeira participação na elite, dois anos atrás?
Obviamente que a experiência negativa que tivemos foi o rebaixamento. O ponto positivo foi a confirmação de um corpo técnico e de jovens jogadores do plantel em um processo, que hoje em dia são os mesmos. Nós conseguimos ter uma boa imagem com as ações que fizemos, mostramos bons jogadores, e pudemos transferir Valentín Castellanos para o New York City FC. No início do ano passado, revimos todo o filme de 2018 e, por isso, mantivemos todo o grupo técnico e de jogadores para a segunda divisão. E, enfrentando rivais duríssimos, com experiência na elite, saímos campeões. E com esse processo de três anos, já estamos colhendo frutos.
O clube é jovem, fundado em 2007, e, consequentemente, ainda não tem um número grande de torcedores. Além disso, no futebol, o Uruguai é o país mais polarizado do mundo, com 95% da população torcendo ou para Peñarol (51%) ou Nacional (44%), segundo dados da pesquisa da MPC Consultores, publicada em abril desse ano. O que o Montevideo City Torque planeja para atrair torcedores?
São um monte de ações que podemos fazer para tornar o clube simpático. Aqui, o torcedor ainda é destratado e devemos tratá-lo como cliente, oferecer um espetáculo lindo e para isso, tentamos desenvolver um jogo ofensivo, de triangulações, parecido com o de Guardiola, no Manchester City. Nossa principal premissa é jogar bonito, dar um espetáculo, jogar no 4-3-3, ofensivamente, seja contra o último da tabela ou contra Peñarol e Nacional, para o torcedor ou seguidor desfrutar. Isso é uma linha que se respeita no grupo. Sabemos que para termos torcedores vai levar anos. Não importa que o Montevideo City Torque não seja a primeira paixão, queremos ser a segunda. Queremos ser um clube onde coisas boas acontecem e que vale a pena pagar o ingresso.
E mesmo assim, porque o clube escolheu mandar os jogos no Estádio Centenário, o maior do país com capacidade para mais de 60 mil espectadores?
Optamos por jogar no Estádio Centenário porque o gramado nos permite jogar da maneira que queremos e também nos atende nas tribunas e nos acessos. É fundamental oferecer as melhores condições ao torcedor para desfrutar do espetáculo, como um local seguro, com estacionamento próximo, todo um processo de etapas de chegada ao jogo, e descontos. Se ele vai pagar para ver o Nacional ou Peñarol e queremos que paguem para vir nos ver, temos que oferecer preços atrativos.
Mas essa escolha demandou um esforço maior de todo o clube?
Foi uma aposta porque, evidentemente, gera mais custos de operação e administração. Então, precisamos vender mais ingressos para cobrir os gastos, ou pelo menos empatar. Nosso planejamento dos jogos começa analisando primeiro o horário, depois o dia e, na semana anterior, começamos a coordenar a ida do público ao estádio. E aí vamos pensando em ações. Nos nossos jogos em 2018, recebíamos o dobro de público contra um grande do que uma partida entre um clube pequeno contra eles, em seus estádios menores
Existe um planejamento, uma discussão interna para que o grupo tenha um braço no Brasil?
Não conheço outros mercados que estão buscando. Se o City Football Group tiver interesse no Brasil, Argentina, Chile ou Colômbia, será bom para nós, para ampliar horizontes. Esse ano o grupo adquiriu o Lommel, na Bélgica, que particularmente nos agrada muito, pois é bastante parecido conosco, está na segunda divisão e é pequeno. É espetacular para jogadores uruguaios que querem ingressar na Europa. É um futebol que permite desenvolver o jogador.
No mês passado, o clube acertou a contratação de Mateo Almada, jogador profissional de FIFA, conhecido Sheidz. O clube acredita que essa é a melhor estratégia para atrair o público jovem e assim, aumentar a sua torcida?
Nós acreditamos que o mercado de esports é incipiente hoje em dia. Não é um mercado que nos dará um retorno imediato. Nosso objetivo não é esse. Não estamos entrando nesse mercado pensando em retorno econômico. O clube aposta nesse mercado, que tem tido um crescimento espetacular nos últimos anos, para ampliar sua imagem na América do Sul. Acreditamos que em seis, sete anos, será muito forte. Não digo ao nível do futebol real, mas será tão forte que todos os clubes estarão nesse mercado. Então, seguindo a linha de tentar fazer coisas novas e diferentes, vimos essa possibilidade, de sermos representados em torneios nacionais e internacionais.