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Paulo Mangerotti

A magia da camisa 10 na Copa Africana

2024/01/20
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Luz aos esquecidos, onde aqueles andarilhos do futebol vão parar. Onde as traves estão desalinhadas e o campo mal demarcado. Onde os cachorros invadem o gramado e o VAR não foi convidado. Onde?

"Você tem um dom, Peter (...) Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Às vezes não é preciso uma máscara e um colã para se vestir de super-herói. Às vezes, uma faixa de capitão e a camisa 10 fazem maravilhas ao homem. E que o digam Emilio Nsue e a Guiné Equatorial.

Aconteceu nesta semana, no "clássico" das Guinés, entre a Equatorial e a Bissau. Nsue estava lá trajado de forma atípica para quem o conheceu nos tempos áureos, por La Liga ou Premier League. Com as camisas de Real Sociedad, Mallorca ou Middlesbrough, Nsue é mais lembrado, provavelmente, como um jogador voluntarioso, versátil, que um dia aparecia como centroavante, outro como lateral, mas nunca um camisa 10.

O protagonismo e a estrela para Emilio Nsue sempre existiram, mas ele precisava de um palco e contexto para poder vestir-se de superherói. A oportunidade nunca esteve na Europa, onde nasceu, mas na África, de onde vieram suas raízes. Nascido em Mallorca, Nsue é de família natural da Guiné Equatorial, e é lá que um número 10 nas costas e uma faixa de capitão no braço fazem toda a diferença.

Nsue, pode até se argumentar, está em baixa na carreira. Depois de passar pelo auge nas principais ligas da Europa, vagou por segundas divisões, parou no Chipre, foi até a Bósnia, e hoje joga na terceira divisão espanhola - o que, sejamos justos, parece pouco apesar da idade (34 anos) e também por não ser uma estrela de elite nas principais ligas.

Mas quando um homem está ciente da lição do Tio Ben para Peter Parker, difícil é pará-lo. Nsue apresentou uma versão nunca vista. Referência, protagonista, cabeça-pensante, superherói. O homem da polivalência foi tudo para a Guiné Equatorial, marcou um hat-trick contra a Bissau, o primeiro de sua seleção na história da Copa Africana e o primeiro hat-trick em 26 anos no torneio.

Por isso, nem sempre é preciso um colã, uma roupa estranha, lutar contra supervilões ou estar nas telas de Hollywood para ser super-herói. Às vezes é preciso só contexto, e aposto que na Guiné Equatorial há quem diga que o superherói veste a camisa 10 e usa uma braçadeira de capitão.



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