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A história das Copas
Copas do Mundo

Copa do Mundo 1938: Leônidas, a arte húngara e a gigante Itália

Texto por Carlos Ramos
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A Copa de 1938, disputada na França, foi jogada em meio a um continente tenso, que estava prestes a explodir em uma guerra que levaria milhões de vidas e arruinaria economias. Ainda assim, a França se esforçou para organizar um grande Mundial, que culminou em uma grande campanha brasileira e no segundo título mundial da Itália. 

Assim como a Copa anterior, em 1934, o Mundial da França teve a participação de 14 seleções e teve, pela primeira vez na história, representantes da América Central (Cuba) e da Ásia (Índias Orientais Holandesas, território que atualmente é da Indonésia). 

Se por um lado as Índias acabaram eliminadas na primeira fase (oitavas de final) com goleada para a forte Hungria de Karoly Dietz, Cuba conseguiu o feito de avançar para as quartas de final. Após empate em 3 a 3 com a Romênia na estreia, os cubanos venceram o duelo de desempate por 2 a 1 para avançarem. Nas quartas, porém, levaram de 8 a 0 para a Suécia na maior goleada daquela Copa. 

Os romenos, por sua vez, ainda tinham o rei Carol II no trono e participavam da terceira Copa seguida. Depois da queda do monarca, porém, o país ficou décadas sem disputar uma Copa, só voltando no México em 1970 (clique aqui e saiba mais sobre a influência de Carol II nas participações romenas em Copas). 

As ausências e as curiosidades

A Copa de 1938 sentiu a ausência de quatro grandes seleções da época: a Áustria, que tinha conseguido a classificação, mas fora anexada pela Alemanha e deixara de existir como nação; a Espanha, que estava em guerra civil na época; e Argentina e Uruguai, que protestaram pela Fifa ter mantido o Mundial na Europa. 

Pela anexação do território austríaco por parte da Alemanha, os jogadores da seleção da Áustria, semifinalista quatro anos antes, poderiam fazer parte da seleção alemã. Mas muitos se recusaram, como um dos grandes nomes daquele time, Matthias Sindelar, o "Mozart do futebol". 

Chamou atenção também o fato de aquela Copa ter sido a primeira transmitida pelo rádio no Brasil, em cadeia nacional. Se nos mundiais anteriores os brasileiros só puderam ler sobre as partidas nos jornais, em 1938 Leonardo Gagliano Neto irradiou a Copa para todo o país, pela Rádio Clube do Brasil do Rio de Janeiro e suas afiliadas. Gagliano foi o único radialista sul-americano presente na França. 

"Naquele tempo, não existiam comentaristas, repórter de campo e toda a equipe que atualmente participa de uma transmissão. O locutor na maioria das vezes era obrigado a ficar nas gerais, junto ao público, à beira do gramado, na linha de campo e, quando tinha sorte, nos telhados das redondezas", disse o narrador anos mais tarde para O Estado de S. Paulo. 

A seleção brasileira

Pela primeira vez na história, também, a seleção brasileira foi formada pelos melhores jogadores do país. Se nas Copas anteriores as brigas entre as federações locais impediram a convocação de todos os atletas, dessa vez a paz reinou e o técnico Adhemar Pimenta, antigo técnico do São Cristóvão, pôde chamar quem quisesse. 

Apesar de contar com nomes como Zé Lopes, tricampeão paulista pelo Corinthians, Luizinho, ídolo do São Paulo que brilhou também no Palmeiras, e Zezé Procópio, meia mineiro que estava no Palmeiras, os grandes craques daquela seleção vinham mesmo do futebol carioca. 

Domingos da Guia, o Divino Mestre, era zagueiro do Flamengo; Romeu era o cérebro do Fluminense, que tinha o artilheiro Hércules: e o Botafogo cedeu o capitão Martim Silveira e o atacante Perácio. A grande estrela da companhia, porém, era Leônidas da Silva, o Diamante Negro, ídolo do Fla que seria artilheiro daquela Copa. 

Para se preparar para aquela Copa, o Brasil treinou durante um mês em Araxá, Minas Gerais, na primeira concentração antes de um torneio internacional da história da seleção. Leôndias, recém-casado, foi o último a chegar, com um vagão de trem só para ele e sua esposa.

A estreia brasileira na Copa foi contra a Polônia, em Estrasburgo. O Brasil chegou a abrir 3 a 1 no primeiro tempo, com gols de Leônidas, Romeu e Perácio. No segundo tempo, porém, a forte chuva encharcou o gramado, e a Polônia reagiu. A classificação brasileira só veio na prorrogação, com um incrível 6 a 5. Leônidas, como contou anos mais tarde, fez um gol sem chuteira.  

"No segundo tempo, com campo pesado, com a chuva que caiu, a chuteira ficou uma boca de jacaré: descolou a sola da parte superior. Joguei fora a chuteira e pedi ao técnico para arrumar outra chuteira. Mas eu calço 36, então não foi fácil arrumar o tamanho. Pediram os gandulas, e até encontramos uma 38 e joguei com ela. Ia ser cobrada uma falta contra a Polônia e eu fiquei sem chuteira. As chuteiras não eram claras, eram escuras, tinha muita lama. O juiz não percebeu. A bola bateu na barreira, voltou para mim e eu aproveitei o lance e fiz o gol. Naturalmente se o juiz tivesse percebido, teria invalidado o tento. Mas ele não percebeu", disse o atacante para a TV Cultura já na década de 1970.  

O Brasil passou, a seguir, pela Tchecoslováquia, mas foram precisos dois jogos (duríssimos ambos). No decisivo, Leônidas e Roberto garantiram a virada que colocou o Brasil nas semifinais para encarar a Itália, em uma espécie de final antecipada da época. 

Para o duelo com os italianos, Ademar Pimenta teve uma grande baixa: Leônidas não estava 100% depois das batalhas contra os tchecoslovacos. Luizinho jogou no comando do ataque, mas não conseguiu dar conta do recado. "Eu devo ter perdido todas as bolas. Nunca joguei de centroavante. Tem de jogar de costas para o gol, saber virar. Para mim, foi extremamente negativo ter jogado ali", esbravejou o ponta anos mais tarde. 

Gino Colaussi abriu o placar para a seleção italiana em chute que Valter não conseguiu defender, e o segundo gol saiu em pênalti muito contestado de Domingos da Guia em Silvio Piola que acabou em gol de Giusepe Meazza. No fim, Romeu ainda descontou, mas foram os italianos que alcançaram a final, e o Brasil conseguiu a terceira colocação, melhor campanha até então. 

A decisão

Os italianos encontraram na final a Hungria, que encantou o mundo naquela Copa com o futebol arte. O time de Pozzo era a antítese, com um jogo objetivo, mas eficiente. A decisão, apesar da diferença entre as escolas, foi um jogaço. 

A eficiência italiana superou o futebol arte húngaro no dia 19 de junho de 1938 em Colombes. Piola marcou duas vezes, Colaussi também e a Azzurra levantou mais uma vez a Copa do Mundo, já que Sarosi e Titkos, uma vez cada, foram os únicos a esboçarem reação para a Hungria. 

Aquele título provava, acima de tudo, que a seleção italiana não era forte apenas em casa, debaixo do fasciscmo de Benito Mussolini. Ali, uma das maiores campeãs do futebol mundial mostrou que era, de fato, gigante. 

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